Resenha crítica do livro “Fora de Série” de Malcolm Gladwell

Finalmente acabei de ler o livro “Fora de Série” de Malcolm Gladwell. Devo dizer que foi um dos livros mais impressionantes que já li. Rápido, conciso e sem enrolações, eu considero ele como o típico livro que te ajuda a pensar horizontalmente.
A premissa inicial do livro é mostrar que as pessoas de grande sucesso (ou outliers – fora de série) na história da humanidade tiveram muito mais sorte e uma série de fatores a favor do que apenas uma questão de mérito. Basicamente, elas estavam no lugar certo, no contexto certo e com tudo que precisavam para se dar bem.
O livro começa falando que a nossa sociedade de hoje vê os “fora de série” como pessoas extremamente competentes, às vezes pertencentes a outro mundo. Gladwell deixa claro, durante todo livro, que não está os desmerecendo. Óbvio que se não fossem competentes ou inteligentes, nunca teriam obtido sucesso, mesmo com todas condições a favor. Mas também deixa claro que precisamos analisar o sucesso dessas pessoas não só pela perspectiva de mérito, e sim também pelo contexto em que estavam envoltas. E iremos perceber que a sociedade valoriza exageradamente a meritocracia do que as oportunidades que surgiram para a pessoa.
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Vou citar alguns fatores citados no livro que devem ser considerados na história de sucesso de uma pessoa:
o ano e mês que ela nasceu e, o mais importante, com quantos anos foi seu “turning point” (=a época que começou a ganhar sucesso). E cruzar essa idade com o contexto sócio-econômico-político-tecnológico da época. Um exemplo que Gladwell cita é a situação de um pai e um filho. O primeiro tinha 30 anos quando houve a Grande Depressão nos EUA em 1929. O segundo nasceu em 1925.
Gladwell cita que o pai era muito bem sucedido. Pegou o crescimento da indústria no começo do século, fundou uma empresa, obteve uma grande riqueza, enfim, tinha tudo para se ter um grande sucesso e fazer história. Veio a Grande Depressão e perdeu tudo. Tinha um filho e uma esposa para criar, o que o afundou ainda mais. Teve que trabalhar duro e no limite da pobreza para sustentar a família.
Seu filho, que após a Segunda Guerra Mundial (e ter lutado nela) tinha 25 anos, aproveitou o crescimento dos EUA e traçou a mesma trajetória do pai. A diferença é que ele enfrentou sua primeira crise na década de 80, com quase 60 anos. Já estava consolidado, com bases sólidas, praticamente aposentado. Já havia acumulado riqueza suficiente para não passar aperto. Como o filho disse: “Se meu pai não tivesse nascido naquela época, ele teria tido muito mais sucesso que eu”.
quanto tempo a pessoa teve de prática/experiência/estudo/treino antes desse turning point. Aqui temos um ponto interessante e o único paradigma essencial proposto por Gladwell para a pessoa ter sucesso. Toda pessoa de sucesso teve 10 mil horas de prática ou estudo na área que se consagrou. Isso dá, basicamente, três horas de treino durante 10 anos.
Um exemplo é os Beatles. Gladwell diz que, na história da banda, eles tocaram durante três anos na cidade de Hamburgo, em casas noturnas, antes de se tornaram famosos. Eles tocavam quase todos os dias da semana, durante incríveis 8 horas por dia. Vejam, 8 horas por dia durante três anos, dá quase as 10 mil horas de prática. Mais um pouco de ensaio e já possuem o requisito básico. Por isso que eram tão bons no que faziam.
o legado cultural a qual a pessoa pertence ou herdou. Suas raízes contam, e muito, para seu sucesso. Gladwell cita o exemplo dos orientais. A fama de que eles trabalham sem parar e que são bons em exatas vêm da cultura de plantio de arroz.
A rizicultura é um plantio que exige muitos cuidados e esforços para se conseguir boas colheitas. E, ao contrário da cana de açúcar, quanto mais você cuida, mais você consegue resultado. Então, a idéia de “quanto mais trabalhar, mais você consegue” se aplica perfeitamente no cultivo do arroz. Além disso, a rizicultura exige cálculos delicados para a colheita e plantio. Nível de água, área de cultivo, entre tantas outras variáveis lógicas devem ser calculadas para se conseguir os resultados.
Então, o legado dos orientais para o futuro dificilmente mudará, porque é algo inerente e enraizado.
a criação e a formação dos pais. A formação que os pais tiveram e o contexto de criação contam muito na formação do que Gladwell cita como “inteligência prática”. Ele cita o exemplo dos judeus durante a década de 30 nos EUA. Os judeus dessa época eram costureiros, pequenos fabricantes de roupas e calçados. Seus filhos, viraram médicos e advogados. Por que essa mudança drástica? Porque, diz Gladwell, os judeus dessa época faziam um “trabalho significativo“. Os judeus amavam o que faziam. Davam sangue e sempre buscavam aperfeiçoar o trabalho, mesmo em condições precárias.
Imagine você, criança, vendo seu pai trabalhar duro, mas com satisfação e gerando um trabalho que o trazia felicidade, sob condições adversas. Isso influencia muito na formação de uma pessoa e refletirá depois, na construção do sucesso. A inteligência prática vem justamente da idéia de “experiência em vivência”, em que é um tipo de inteligência que você adquire no dia-a-dia, na improvisação cotidiana, se espelhando nas outras pessoas, principalmente em sua família. E é algo que se obtém vivendo, no contexto ao seu redor.
Enfim, esses são os fatores principais citados no livro. Acredito que a base de argumentos do livro é muito sólida e me fez pensar sobre a trajetória de vida das pessoas e até da minha. E acho que sim, todas as pessoas tiveram sorte ou algum contexto que propiciasse uma oportunidade. E aí o mérito e competência fez o resto.
E para finalizar, um detalhe interessante do livro: não se iluda com o QI das pessoas. Gladwell cita, como exemplo, Einstein e um cara com um QI maior que o dele. Gladwell pergunta: se ele tem um QI maior que o de Einstein, por que ele não fez tanto sucesso quanto ele? A resposta é que o QI só importa até um certo momento. E ele faz um paralelo com os jogadores do basquete. Um jogador com 1,75m obviamente não será capaz de jogar de igual para igual com um de 1,90m. Mas, a partir dessa altura, o tamanho já não importa tanto. Ter 1,90m ou 2,05m já não é tão significativo quanto a diferença entre 1,75m e 1,90m (e olha que estamos falando da mesma diferença de 15cm). A partir de 1,90m, conta mais a técnica, o posicionamento, etc. do que a altura. E isso vale também para o QI. A partir de um certo QI, para qualquer área profissional, ele já não importa muito. Começa a importar outros fatores como, por exemplo, a inteligência prática.
Então fica a dica. E leiam esse livro. Vai mudar a forma como você vê a vida.
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