Facebook Timeline: em busca da fidelidade, por Daniel Angione

E mais uma vez uma rede social – no caso o Facebook, que explodiu no Brasil no começo de 2010, apesar de já ter seu sucesso estabelecido no exterior – causa borbulho na comunidade online ao trazer uma inovação de sua interface. Estou falando da nova maneira com que os perfis dos usuários são dispostos e organizados, a Timeline (ou Linha do Tempo).

A idéia da Timeline é deixar de lado o modelo que, até então, era padrão entre as redes e visava organizar os perfis por preferências e prioridades de cada usuário, optando agora por uma organização cronológica e baseada em acontecimentos. Para muitos, como sempre, essas mudanças são mal recebidas e motivo de protestos e reclamações mas, ao meu ver, o Facebook está dando um passo adiante no que tem se tornado o verdadeiro motor das “guerras” entre comunidades virtuais: a fidelidade.

Recentemente, li o livro Modernidade Líquida, de Zygmunt Bauman, e não posso negar que talvez a reflexão sobre o mesmo seja influência na forma de pensar sobre a Timeline, a qual fui convidado a experimentar há alguns meses e já passei pela fase de aceitação, estando agora – na verdade – gostando muito.

No livro, Bauman discorre sobre vários temas, mas culmina num ponto que é a liquefação da sociedade. Entre os aspectos citados, é muito interessante a forma com que ele analisa a leveza de todos os valores que predominam hoje em dia e são, em grande parte, formadores dessa sociedade que estamos acostumados, onde tudo é rápido e instantâneo: o que para alguns é apelidado de “modinha” acaba, na verdade, revelando-se como um fator social que demonstra o qual voláteis nossos hábitos e tendências se tornaram.

E é por isso que retorno à fidelidade. O Facebook percebeu essa realidade vigente e compreendeu que, hoje em dia, para se formar laços concretos, é necessário mais do que competência e materialidade: é necessário apelar para o que há de mais intrínseco: sentimentalismo. Ao meu ver, desconsiderando toda a visão comercial da publicidade direcionada (que é, afinal, o que sustenta o Facebook e grande parte da internet), a grande jogada da Timeline é a criação de uma sensação de preservação histórica de nossas vidas, e essa preservação gerará afeto das pessoas para com seus perfis. Esse afeto garantirá, no final, a tão desejada fidelidade.

Pensando nos ex-usuários de Orkut, tente lembrar-se o quão fácil foi (para grande maioria que já o fez) livrar-se dele. Nada que salvar algumas fotos e, no máximo, copiar e guardar alguns depoimentos que já não desse conta do trabalho. Não existiam laços, não existia um afeto. As pessoas não usavam o Orkut porque ele era o que importava. Elas usavam o Orkut como meio para chegar ao que importava: as relações humanas, o sentimento, as memórias.

A Timeline visa preencher esse espaço e se diferenciar dessa ocorrência natural de praticamente todos os meios: serem, de fato, apenas meios. Permitindo ao usuário registrar sua vida, suas lembranças, nascimentos de filhos (que posteriormente serão “conectados” à sua Timeline, formando uma grande rede no futuro) e outros eventos da vida e do cotidiano, ela criará uma relação afetiva que garantirá, no futuro, a preservação e manutenção do que é, até hoje, o maior exemplo de sucesso no universo das redes sociais. Será difícil abandonar sua história, registrada e ornamentada com fotos destacadas, perfeitamente catalogada por ano e com direito à “links” e outros recursos para cruzar a com a de outros milhões de usuários, como um grande álbum de sua vida mas que não pesa e tem a garantia de estar lá, online e preservado para seu bel-prazer.

Digo isso não como alguém que tenta prever o imprevisível e dinâmico futuro da internet, mas como alguém que provavelmente já está sendo acolhido por essa nova perspectiva. Há alguns meses, ao criar o evento de falecimento de um cão que foi muito querido e ver como o Facebook o homenageou e “registrou para sempre” em meu histórico, já foi o suficiente para garantir, ao menos, a minha fidelidade.



Espere o dia em que todas as pessoas começarem a sentir isso e preencherem suas histórias. O Facebook está mudando mais do que sua interface. Ele está mudando seu propósito: não quer mais ser apenas um meio.




Sobre o autor: Daniel Angione é estudante de Comunicação Social – Midialogia na Universidade Estadual de Campinas.

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