O pensamento como um teclado virtual.

Voltando ao livro “Cultura da Interface” de Steven Johnson, agora comentarei sobre o capítulo “Texto”. Mas antes de mais nada, obrigado pelos comentários sobre o novo layout do blog. Recebi elogios e sugestões de melhoria, que, com certeza, serão úteis e saudáveis para o blog. Obrigado. E falando no layout, coloquei uns twitters que eu sigo e o meu próprio. Aliás, o twitter é meu xodó.

Bom, o capítulo trata do texto digital, ou seja, a ferramenta que conhecemos para a digitação no computador. O capítulo aborda vários aspectos, desde a metáfora com as “anotações de escritório” até o sistema de localização e comparação que se pode fazer com textos digitais ( = localização por palavras-chave e buscar algo por determindo conteúdo através de frequência de palavras em algum texto).

Mas o ponto que quero comentar é a transformação que o texto digital nos trouxe. Antes, digitar texto intermediado por alguma ferramenta era um processo totalmente diferente de hoje, com os computadores: errar uma letra ou palavra era praticamente um ato abominável na máquina de datilografia. Pensávamos uma frase inteira antes de digitar, para que não errássemos e assim, evitaria rasuras na folha. Hoje, com os comandos digitais, errar já não é problema: as teclas delete e backspace são triviais e não deixam rasuras, afinal, nem se passa para o papel direto.

Ou seja, parece que o texto digital é revisado a todo momento, desde seu ato de produzir até a versão para impressão. O medo agora são dois: a tinta da impressora manchar a folha ou o texto ficar ruim, em termos de coerência e gramática. Johnson aponta que houve uma mudança drástica por conta dessas novas condições de se produzir texto. A principal foi a forma de pensamento.

Antes, de acordo com ele, os produtores de texto eram mais racionais: pensavam antes, planejavam o parágrafo, tinham uma visão holística ( = total) do texto. Hoje, somos mais subjetivos: digitamos o texto que nos vem a cabeça e colocamos tudo na tela, só depois pensamos e planejamos se o que colocamos irá fazer parte do texto. O processo deixou de ser burocrático ( = no sentido de processo em si, não no trabalho intelectual) e passou a ser algo mais espontâneo e rápido, ou seja, todo processo mudou, e isso acarreta novos comportamentos.

Num paralelo a McLuhan, téorico canadense, se o meio de comunicação influencia o modo como a sociedade se determina, digo que essa mudança de processo mudou nossa forma de organizar e transmitir a informação, além de mudar a própria forma da informação. Um livro é muito mais fácil de ser feito hoje do que 100 anos atrás. A revolução que vemos hoje na produção de texto ( = tanto na forma de se produzir como nas novas formas de divulgação e publicação, como o ambiente virtual – ex: blog) é comparável com a invenção da imprensa de Gutemberg.

De acordo com Johnson, essa implementação do texto digital foi um dos pilares para o novo paradigma que o computador e a internet implantaram. E hoje, o paradigma do texto está em uma nova fase, com o chamado “internetês”: marcado pela velocidade, a linguagem utilizada nos textos digitais dos ambientes formais é “perda de tempo” para os usuários comuns. Assim, abreviações são utilizadas, visando a rapidez da mensagem ( = conhecemos bem, como o uso do tlz – talvez, axa – acha, etc.). Até 20 anos atrás, nada disso era assim.

Se até na linguagem utilizada estamos buscando rapidez, é porque algo mudou. E normalmente, quando algo muda, é porque nosso pensamento mudou. E Johnson destaca que a nova forma de se produzir texto no computador é um dos pilares do novo pensamento humano.

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