Midializado

Metáforas do mundo digital

Continuando a série de comentários sobre o livro “Cultura da Interface” de Steve Johnson, nesse post irei comentar sobre a parte em que ele descreve as metáforas presentes no mundo digital.

No capítulo intitulado “Janelas”, Johnson explica de onde surgiu a denominação “janela” para a interface que conhecemos em nossos computadores. Não irei ser específico em dados históricos ( = vão ler tudo no livro, oras!), mas basicamente, a metáfora da janela surgiu depois da metáfora do escritório, ou seja, do desktop. A idéia inicial da interface do desktop era ser semelhante a uma mesa/escrivaninha de escritório, sendo que o mouse seria uma mão e aí entraria as janelas, que seriam mais ou menos como “pilhas de fichas, uma em cima da outra, com uma delas em primeiro plano”.

Johnson ainda diz que é incrível como que, atualmente, esse modelo é indispensável para se pensar a interface contemporânea, pois na época que foi lançado e criado, era visto como um modelo para “crianças, adolescentes” ou para diversão e entretenimento, em contra-ponto ao modelo DOS, de comando em texto puro. O que hoje achamos um absurdo e imprático, como é o DOS, antes era visto como o paradigma da interface.

Sob o ponto das metáforas, Johnson diz que o termo “navegar/surfar” na Web é impróprio para nossos tempos. Navegar/surfar traz a conotação de ser um ato individual, solitário. Hoje, com a crescente ascensão das redes sociais (MySpace, Blogs, Facebook, etc.), a web deixou de ser individualizada. Não há web sem interação entre internautas e o termo mais apropriado, para ele, seria algo como “integrar-se” na Web ou algum termo no sentido de cooperação.

Interessante pensarmos que as metáforas que utilizamos hoje no mundo digital foram tirados do mundo real. Porque penso que, atualmente, o mundo digital é um outro mundo, em que os restos do real seriam nós mesmos. As interfaces continuam com a mesma base de antigamente, mas aceitamos mudanças que extrapolam o real. As metáforas ainda valem, por conta de suas raízes, mas suas conotações no mundo digital já não são vistas como puras metáforas: um mundo se criou em torno delas e a linguagem deste abarcou-as. Assim, agora são termos, não metáforas.

E para encerrar, deixo duas observações:

– a nossa linguagem mudou muito com esse mundo que surgiu, com certeza. Se pararmos para pensar, quantos novos termos usamos depois que o computador entrou em nossas vidas? Ou melhor, quantos novos significados demos a expressões e palavras por conta de nossos novos hábitos cotidiados em frente a um monitor?

– e uma prova de que o mundo real e a web são mundos “separados” (em aspas por conta da força de expressão), a maioria das pessoas utilizam “entrar/acessar na internet”, como se a internet fosse um outro lugar (o que não deixa de ser, ao meu ver).

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