Entrevista exclusiva com Nicolás Alcalá: “(O Cosmonauta) Tem sido o desafio mais difícil de nossas vidas”

       No próximo dia 18 de maio uma espaçonave vai ser lançada em Barcelona. Com a estreia mundial confirmada, O Cosmonauta, filme realizado graças aos recursos coletivos obtidos por crowdfunding vê a luz do dia depois de 04 anos. O projeto conta com a ajuda de 5.000 colaboradores de todo o mundo (dentre eles o Midializado), os quais adquiriram produtos e/ou cotas de patrocínio do filme e agora estampam seus nomes nos créditos finais.

 

        O filme conta a história do primeiro cosmonauta russo a chegar à Lua, em 1975, o qual não consegue regressar para a Terra e é dado como perdido no espaço. Porém, por meio de mensagens de rádio ele diz ter conseguido retornar à Terra, mas encontrou tudo vazio. Sua presença irreal e sua voz vão destruindo pouco a pouco o mundo de seus seres queridos.
        O projeto espanhol ainda traz consigo outro diferencial. Todo o projeto é pensado de maneira transmídia, ou seja, aposta em diferentes mídias para expor os diferentes pontos de vista da história que pretendem contar. Com boletins periódicos para todos aqueles que ajudaram o projeto via crowdfunding, os quais pedem ajuda na forma de vídeos, textos e fotos, a produção investe na criação de podcasts e perfis dos personagens na rede social Facebook. Com informações complementares que ajudam o desenrolar da história e engajam os mais interessados pelo universo narrativo apresentado, o filme aposta nessa nova estratégia de comunicação que já se mostra como uma alternativa financeira interessante para o mundo do entretenimento.
      Essa semana o Midializado teve o prazer de entrevistar com exclusividade o diretor do longa, Nicolás Alcalá, que contou um pouco sobre as gravações realizadas e também sobre a expectativa para o lançamento da obra. Abaixo você pode conferir a íntegra da entrevista e, enquanto espera o lançamento do longa, pode passar lá no site e conhecer melhor o misterioso e encantador do projeto.

           
Midializado Mais do que um filme, O Cosmonauta é um sonho coletivo. Como o projeto nasceu e como surgiu a ideia de optar pelo crowdfunding?
Nícolas Alcalá Tudo começou com um falso projeto desenvolvido pelo fotógrafo espanhol Joan Fontcuberta sobre cosmonautas perdidos no espaço. Eu comecei a descobrir um novo mundo de histórias e lendas sobre acidentes secretos e cosmonautas que nunca conseguiram retornar para a Terra ou que haviam morrido durante a reentrada (na atmosfera). A ideia de um ser humano, sozinho, 400 mil km de distância de sua casa, sabendo que vai morrer…isso fundiu minha mente. Eu escrevi várias histórias com cosmonautas, comecei a ler (James Graham) Ballard e um monte de livros históricos e acabei me apaixonando pela corrida espacial, especialmente pela parte soviética. Decidi contar a minha história daquele período com todas as incríveis conquistas, conspirações e momentos épicos. Sobre o crowdfunding, ele apenas fez sentido. O que eu quero dizer é, nós éramos três estudantes quando começamos com isso, em um país onde fazer um filme fora da indústria é quase utópico e querendo fazer um filme de um milhão de dólares, filmado em três países diferentes, com toneladas de conteúdo transmídia e uma estratégia de distribuição revolucionária. Como poderíamos fazer isso com os fundos tradicionais?
Qual a importância do crowdfunding para o audiovisual e como ele pode ajudar as produções de baixo orçamento?
Eu não sou um entusiasta do crowdfunding, pelo contrário, eu acredito de olhos vendados no crowdsourcing. A pior parte é que é exaustivo, consome muito tempo para encontrar dinheiro (ao menos que você seja um produtor de Veronica Mars capaz de erguer cinco milhões de euros em uma semana), além disso, você precisa produzir o merchandising que você vai dar em retorno, é desafiador. Em nosso caso, era ainda mais difícil uma vez que nós não éramos pagos com o dinheiro da produção e trabalhávamos 8h por dia no projeto do Cosmonauta e outras 6h em publicidade para pagar o aluguel. Mas quer saber, eu não mudaria um segundo dos meus últimos 04 anos. Vale a pena por muitas razões: eu fiz um filme, eu fiz o filme que eu queria fazer e eu fiz com (verdadeira) liberdade criativa. Nenhum produtor, distribuidor ou investidor estava em cima de mim falando o que eu deveria ou não fazer (o que às vezes pode não ser tão bom, mas estou feliz que eu tive a chance de experimentar isso, uma vez que poucos diretores tiveram a chance de fazer seus próprios erros e escolhas). Realizei o filme com 5 mil novos amigos que eu fiz na projeto e que estavam lá por mim nas horas boas e ruins e que vão falar do filme muito melhor do que eu mesmo. Tudo isso nos permitiu não apenas fazer o filme que queríamos, mas ser capazes de nos esquivarmos dos intermediários se precisássemos, negociar em nossos próprios termos muitas vezes e distribuir o filme do jeito que gostaríamos. Tudo isso é muito bom. (Jean-Pierre) Melville disse uma vez que nosso primeiro filme deveria ser feito do próprio sangue. Esse foi definitivamente nosso caso. Tem sido o desafio mais difícil de nossas vidas. Tem sido doloroso, exaustivo e desagradável, às vezes.
O Cosmonauta é também uma experiência transmídia. Como vocês tiveram a ideia de usar essa estratégia de comunicação e como você vê o casamento de transmídia e entretenimento em um futuro próximo?
Porque eu podia. Essa foi a única razão. Sempre tivemos que criar determinadas histórias por um padrão que existiu e não apenas porque era o melhor meio de contá-las, principalmente por causa de restrições físicas: o CD tem 12 canções porque era tudo que um que comportava. Um livro tem 200 páginas porque mais que isso é difícil imprimir. Um episódio de uma série dura 45 minutos por você precisa de três pausas de cinco minutos para propagandas. E assim por diante. Mas hoje em dia, com a tecnologia que existe, você pode contar sua história em todas as mídias, em múltiplas telas e do exato jeito que você quer. Nós criamos todo um universo com muitos pontos de entrada que vão completar a narrativa se você ver todo o conteúdo, mas que também podem se sustentar por si só. Por trás dos 34 webisodes e o filme, haverá uma ficção criada no Facebook com 13 perfis dos personagens do filme interagindo por várias semanas nos murais das pessoas, os quais serão compilados em nosso website e um livro com fotografias e pensamentos dos personagens que incluem poesias na forma de um diário de um cosmonauta assim que ele pousa na Terra. É muito mais do que um filme, é todo um universo. O futuro será transmídia, não tenho dúvidas sobre isso.
Quais foram os principais desafios que a Produção enfrentou? Você poderia citar um momento que marcou toda a equipe de Produção?
(Suspira) Pouco espaço para escrever todos! Tem sido uma montanha-russa. Quando você lê todas aquelas histórias sobre filmagens difíceis como Fitzcarraldo, Apocalypse Now ou Blade Runner…elas soam engraçadas, mas não é tão engraçado assim quando o inferno desaba sobre você, mas, quer saber, é sempre legal ter histórias para escrever um livro desses você mesmo. O melhor momento foi quando vimos os créditos finais e percebemos que havíamos feito um filme, apesar de tudo. E claro, as conversas e aulas especiais às quais fui convidado. Essa relação com a audiência é muito especial. E o pior momento foi provavelmente quando o co-produtor russo deixou a produção uma semana antes das filmagens levando com ele 150 mil euros, mas não foi tão ruim assim, uma vez que pedimos ajuda para nossa base de fãs e conseguimos erguer 170 mil euros em 3 dias.
Qual sua expectativa para o dia 14 de maio? O que podemos esperar da Riot Cinema depois de O Cosmonauta?
Sem expectativas. Eu estou apenas muito feliz de saber que fomos capazes de realmente fazer esse filme. Tem sido uma história épica. E sobre mim ou mesmo a Riot Cinema em um futuro próximo, receio responder o mesmo que agora: não tenho ideia, mas acho que eu gostaria de estar fazendo o que eu mais amo: filmes que gosto, aqueles dos quais posso me orgulhar e que tenham uma audiência engajada. Talvez com um pé em Los Angeles e outro na Europa ou mesmo fazendo algo muito legal e imersivo em transmídia. Veremos.
Se você pudesse entrar em uma nave especial e voar por todo o universo, para onde você iria e por que?
Tem uma frase em meu filme, com a qual me identifico, apesar de todo o amor que tenho pelo espaço: “(fala de Stas) Então…você não veio trabalhar aqui porque você amava seu trabalho? (fala de Yulia) Eu odeio o espaço. Tem tanta coisa para ver aqui embaixo”. Então eu acho que seria uma viagem curta (ri).
Conheça nosso novo projeto:
www.atlasmedialab.com

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